A realidade é mais doce que o sonho...

A realidade é mais doce que o sonho... (Reality is sweeter than dream...)


domingo, 27 de novembro de 2011

Meu Jardim Interior


Plantei rosas na minha varanda.
Contra indicado pelo primeiro jardineiro.
Fui ao Ceasa 6a feira cedo, lá me garantiram que dá sim.
Comprei adubo, chamei um segundo jardineiro que preparou a terra em 2 semanas para receber as mais lindas escolhidas.
E logo vi que Saint-Exupery tinha razão quando descreveu um Pequeno Principe angustiado com sua rosa  tão carente de cuidados...
Com o perfume vermelho instaurou-se em minha rotina o arranca-mato e o vai-e-vem do regador.
Descobri que meu jardim de rosas é meu jardim interior: no dia em que nao deixo sobrar um matinho pra contar historia, sinto se quebrarem as algemas da alma renovada.

sábado, 22 de outubro de 2011

"Minhas Ferias"

Enquanto os brasileiros (os outros; eu, "Sarinha", jamais!) continuarem a aceitar cegamente esses precos absurdos de restaurantes, shoppings, ingressos para shows, supermercados e servicos inflacionados a cada mes, vai se mantendo atual o texto abaixo, que escrevi em janeiro de 2010.
 

SUBLIME BUENOS AIRES
 
Dez dias na capital, incluindo o Reveillon, em hospedagem fora do padrão: em casa de amigos brasileiros que estão lá a trabalho por 3 anos, morando no famoso bairro da Recoleta. Hospedagem assim só tem uma definição: “priceless” (sem preço) – obrigada mais uma vez, amigos!
Essa é a melhor maneira de conhecer outros lugares – por dentro, não com o olhar distanciado de turista. Vivendo o dia-a-dia, fazendo supermercado, levando as crianças à pracinha mais próxima, pondo em teste o portunhol com a empregada; tendo tempo de observar as gentes na rua em detalhes, como andam, o que fazem, sem caricaturas para resumí-las.
Correndo os olhos pelos livros da estante do apartamento, me deparei com o romance “Budapeste”. Sempre me perguntei por que diabos Chico Buarque foi escrever um romance sobre Budapeste, a terra do meu pai, famosa para mim, mas não tanto em comparação com Paris, Nova York, etc. Leitura mais apropriada não poderia ser – justo a mesma história de conhecer um lugar estranho olhando de dentro.
E em meio aos maravilhosos sabores portenhos dos iogurtes, dos espumantes pela metade do preço do que no Brasil, dos bifes de chorizo que se cortam suculentos com faca afiada sem serra, dos sorvetes de dulce de leche, em meio as facilidades da rotina da casa, em meio à harmonia visual de um bairro padronizado, em meio a horas passadas ao som de tangos ao piano no café da livraria do Ateneo, instalado em pleno palco de um teatro de ópera desativado, veio a constatação:
Que qualidade de vida! Agora consigo traduzir as comparações de Buenos Aires com Paris, com a Europa: muito menos o fato de que certas ruas e prédios nos remetem ao ar da capital francesa, ou de Budapeste, ou da Holanda, mas muito, muito mais pela sociedade organizada em cima de tradição e de parâmetros de primeiro mundo, tornando a vida muito mais prazerosa que esta que nos atropela no Brasil. Nossos irmãos argentinos podem até estar em crise guardando dinheiro no colchão, mas depois que uma sociedade consegue se estruturar, onde por exemplo o convênio médico cobre todas as despesas da criança com necessidades especiais, ou onde se pode encontrar sessão de restaurantes kosher na praça de alimentação do shopping, é possível manter o charme em meio â tormenta (não digo “manter a pose”, pois pose é com os peruanos, que não abaixam a cabeça por serem os verdadeiros herdeiros dos incas – a cozinheira era peruana e nos preparou um ceviche inesquecível).
Assim foi que nós e as crianças voltamos impregnados dos Bons Ares de lá, o principal mito caído por terra - a constatação de que a famosa rivalidade é só no futebol (ou inventada pelos norte-americanos naquela prática de “Dividir para Governar”); que os argentinos na verdade adoram os brasileiros e tudo que remete ao Brasil. E voltamos com nossos olhos bem abertos para o que gerou uma grande indignação e questionamento: aqui na terrinha estamos pagando muito alto por muito menos – quem são mesmo os poucos que estão lucrando com o superfaturamento geral dos preços numa sociedade em que tudo ainda está por fazer?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pao & Vinho


VINHOS FRANCESES

Eis alguns frutos desses 8 anos de estabilidade economica, onde passamos de endividados para credores da divida:
No supermercado costumeiro agora se encontram vinhos franceses de primeira na faixa de R$55. Mas, cuidado! Ate nas adegas tradicionais e no Dutyfree temos sido surpreendidos por exemplares falsificados. Minha dica para identificar um verdadeiro vinho frances das tradicionais regioes produtoras (pre-dica: a regiao tem que constar no rotulo): olhe a garrafa contra a luz e aparecera a coloracao rubi transparente. Os Bordeaux sao mais escuros, mas tambem revelam um pontinho de rubi contra a luz; se o vinho e muito escuro, preto, descarte-o.

Ao abrir um genuino vinho francês, revela-se um bouquet tão complexo como a gama de perfumes franceses - é o aroma da tradição, ou seja, a manutenção por séculos de um padrão que permite um refinamento sem igual. Para mim, perda de tempo tentar identificar "notas" de frutas, nozes, trufas brancas, pimenta, rs, rs, rs... O sublime é indefinivel. Simplesmente sublime.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Musica na Semana do "Saco Cheio"

Concerto da OSESP sábado dia 15 de outubro de 2011: concerto de Professores, Mestres, verdadeira homenagem à data.
A começar pelo jovem e talentosíssimo maestro russo Vasily Petrenko como grande e preciso comandante da Orquestra na Sinfonia nº11 de Shostakovich, nos impelindo para o meio do campo de batalha sem ter para onde fugir. Música bélica de um povo que viveu guerras; nós brasileiros nao sabemos o que vem a ser isso, mas a música transportou-nos e nos fez respirar um pouco daquela atmosfera inflamável.
Agora, é preciso dizer: quando a multicultural OSESP tem um líder como esse à frente interpretando uma peça decente,  todos os seus talentos brilham - como sabemos que podem - em visível deleite e nós na platéia levitamos. Os timbres diferenciados do 1º trombone, 1º trompete e 1ª trompa, todos do histórico quinteto Metalessência, sao mesmo o molho daqueles metais, pontuados pela brilhante Beth del Grande nos tímpanos e toda a percussão. Inaceitável a Orquestra se apresentar com qualquer coisa que esteja abaixo do nível desse concerto e igualmente inaceitável a platéia já tão cativa aplaudir de pé uma grande obra mau executada só porque se trata de uma grande obra, uma figurinha famosa, o que não a move, os "vinhos honestos", para usar um termo tão em voga quanto brochante. Aqui vai uma oportuna explicação: só se aplaude de pé a Arte que impeliu a alma do ouvinte a puxar seu corpo levantando-se com ímpeto da poltrona.
Ópera L'Enfant et les Sortilêges, de Ravel, montagem do Teatro Municipal de SP, récita do Dia das Crianças: aquele clima gostoso da alegria das crianças e suas famílias na platéia, mas aquele clima de vazio ao término do espetáculo e aquela cordialidade pró-forma dos solistas a caráter no saguão recebendo os cumprimentos. Conversei com pessoas que foram ver em outros dias e não souberam definir o que faltava: "Os aplausos foram injustamente frios, o cenário estava tão lindo, as vestimentas também!"; "Nada fazia muito nexo, não gostei das vozes"; "Gostei dos cenários e do balé, mas havia mais efeitos sonoros do que música"; "A temática não era para crianças". Era sim. Eu, mãe de 3 meninos de 6 e 7 anos assisti várias vezes com eles o dvd-referência do Netherlands Dance Theater e eles vivem querendo ver de novo e de novo, assim como o dvd de "A Menina das Nuvens", de Villa-Lobos. Foram comigo na récita do Dia das Crianças, e senti que gostaram, mas esperavam muito mais. Perguntei ao menorzinho, muito sensível, se gostaria de assistir de novo, já que os avós iriam na récita do dia 15 e ele disse "Não, obrigado". Pensei: "Let's double check..." (Vamos conferir) e mais tarde refiz o convite - a resposta foi a mesma.
Essa fantasia lírica é de grande apelo às crianças sim, trama recheada de bichinhos, sapos, pássaros, relógios e xícaras falantes, poltronas que dançam... A música híbrida entre lírica e incidental precisa seguir de mãos dadas com direção coesa sobre o fio condutor dado pelo causador de toda aquela baderna: o menino que "se encheu" de fazer a lição e surtou com tudo a sua volta. Mas o menino estava perdido como se não soubesse qual era a história que estava sendo contada, como se não soubesse porque estava vestido com uniforme de futebol, e sua voz estava pesada demais para um menino. As outras vozes eram boas sim, mas não se bastaram sem o fio condutor da trama.
Com delicadeza,
Beth Ratzersdorf